1 ano de veículo elétrico: o bom e o mau
Foi em setembro de 2019 que adquiri o meu primeiro veículo elétrico: o Nissan Leaf. Agora, um ano depois, faço o balanço desta aquisição.
Depois de 8 anos de Chevrolet Cruze - que muito gostei, só foi pena a marca ter saído de Portugal - estava na altura de trocar de carro. Mas este teria de satisfazer 3 requisitos: ser elétrico, ser tecnológico e ter CarPlay (como é óbvio).
O ser elétrico deve-se ao facto de ter tido ótimas experiências de condução com veículos de carsharing, nomeadamente o BMW i3 e o Citroën C-Zero. Fiquei fã da força (binário) que o veículo pode ter de imediato e do facto de poder utilizar apenas um pedal na condução, pois assim que tiramos o pé do acelerador, o carro começa a travar até parar completamente, derivada da regeneração de energia conjuntamente com o sistema de travagem do veículo. Tudo isto, em completo silêncio, como se tivéssemos num veículo furtivo.
Além disso era importante ter uma autonomia suficiente para cidade, mas que permitisse de vez em quando fazer umas viagens um pouco maiores, ainda que sempre na região metropolitana de Lisboa. E claro, um preço que não fosse muito exagerado, pois o preço é ainda um fator que afasta muita gente dos elétricos (por isso, na realidade, procurei um que fosse “menos caro”).
O ser tecnológico prende-se com o meu lado geek, pelo que gostaria de poder usufruir de algumas das tecnologias mais interessantes que estão a ser implementadas nos carros, sobretudo a condução (semi) autónoma. Adicionalmente, como “Apple guy”, tinha de poder ligar o meu iPhone ao carro e ter acesso às minhas apps, pelo que CarPlay era essencial.
E foi assim que o Nissan Leaf surgiu no meu caminho, na sua versão Tekna com bateria de 40 kWh (cerca de 250Km de autonomia).
O bom
Conduzir um carro elétrico é uma experiência totalmente nova, bem mais simples do que um veículo a combustão, mas ainda assim requer uma curva de aprendizagem. E para quem anda 99% em cidade, como eu, é o veículo ideal, tanto para o pára-arranca como para pequenas ultrapassagens ou arranques em vias de aceleração. Como referi anteriormente, o binário instantâneo e silencioso e o conduzir apenas com um pedal fazem com que tenha mais prazer em conduzir um elétrico do que qualquer outro veículo a combustão.
Outro ponto muito positivo é o facto de podermos “atestar” o veículo elétrico no conforto da nossa casa. Eu tenho a sorte de ter uma tomada doméstica na box do meu lugar de garagem, pelo que não podia ser mais simples carregar o carro. Ainda pensei em instalar um carregador mais potente, já que pela tomada doméstica o carregamento é bem mais lento (cerca de 40% em 7 horas), mas como não gasto tanta bateria por dia, não achei necessário. Além disso, também teria de fazer um investimento em mudar os cabos de eletricidade, pois o que tenho instalados não iriam permitir muito mais potência desde o meu quadro até à garagem.
Como ponto positivo não podia deixar passar a questão ambiental. Para quem vive em grandes cidades e poluentes, como Lisboa, sabe bem a diferença que é de ter um carro que passa à nossa frente a deixar um rasto de fumo e um que não deixa nenhum rasto. É bom para o ambiente e bom para a saúde imediata das pessoas.
O mau
O grande problema dos carros elétricos em geral continua a ser a autonomia. Como disse, para mim não é uma questão muito importante, porque só preciso de carregar em casa. Porém, se um dia quiser ir ao Algarve, por exemplo, poderá ser uma experiência menos boa. Aliás, apesar da autonomia ser a questão central, podemos, no entanto, colocar isto de outra maneira: o problema é o tempo de carregamento e os carregadores rápidos disponíveis.
Claro que é possível ir até ao Algarve com o Leaf, parando uma vez para carregar. Mas o problema não é só ter de parar para carregar uns 30/40 minutos. É também esperar que o posto esteja livre (e a funcionar), porque se não esse tempo vai duplicar ou triplicar, consoante o número de carros à nossa frente para carregar. Não pode existir apenas 2 ou 3 postos de carregamentos rápidos de veículos elétricos em áreas de serviço, porque corremos o risco de estarem ocupados ou de simplesmente não estarem a funcionar.
É como a questão da autonomia dos smartphones. Claro que era bom ter uma bateria que durasse uma semana, mas se a conseguirmos carregá-la completamente em 5/10 minutos, a autonomia deixa de ser tão relevante.
Um outro problema é o facto de os carros elétricos estarem mais suscetíveis aos fatores que influenciam a autonomia de um veículo. Por exemplo, neste ano que passou, fiquei com a sensação de que a inclinação da estrada, a chuva e o vento influenciam muito mais a autonomia, de forma negativa, do que nos veículos a combustão. Pior ainda o Ar Condicionado, que tira cerca de 15% da autonomia. E claro, a velocidade. Eu não sou um “acelera”, mas enquanto que nos carros a combustão o consumo é baixo em velocidades mais elevadas, até certo ponto claro, nos elétricos esse ponto ocorre (muito) mais cedo. Por exemplo, imagina que tens um carro a gasóleo. Se fores em autoestrada a 120Km/h, o consumo não é muito elevado. Mas se fores a 120Km/h com um carro elétrico, o consumo é alto o suficiente para fazer a autonomia cair a pique. Para maximizares a autonomia, terias de ir no máximo a 100Km/h. É por isso que há até quem prefira fazer as viagens com carros elétricos por estradas secundárias.
Mais uma vez utilizando o exemplo do meu Leaf, em cidade provavelmente conseguia fazer mais de 300 Km com uma única carga, com uma condução muito económica (e AC desligado) - eu faço uma despreocupada, ou seja, defensiva, mas sem estar preocupados com médias. Em autoestrada a 120Km/h, não faço seguramente mais que 200Km. E se ligar o AC, pior. É uma diferença demasiado grande para ser ignorada e é, por isso, algo a ter em conta.
Compensa comprar um elétrico?
Para mim a reposta é sim, pelo prazer que tiro da condução e porque a autonomia não é um grande fator para a minha utilização diária. Mas se andas muito em estrada, ou vais para um carro bem mais caro, como o Tesla, ou então pelo menos um híbrido.
E depois, há que fazer contas para perceber a partir de que altura (anos ou quilómetros) irá compensar ires para um carro elétrico. Para isso, terás de ter em consideração:
- quantos quilómetros fazes por ano;
- o custo de cada quilómetro;
- a diferença de preço entre a versão a combustível e a versão elétrica do veículo;
- chegar a um valor sobre os benefícios que conseguires tirar partido de ter um elétrico (por exemplo: isenção de IUC, isenção nos estacionamentos da EMEL, em Lisboa, nas zonas verdes, amarelas e vermelhas, através do Dístico Verde que custa 12€/ano, etc.).
Como disse, a parte financeira não foi o principal fator para mim, pois iria demorar uns bons anos para compensar a escolha de um elétrico.
Em termos ambientais, diria que de uma forma geral, compensa ter um veículo elétrico, apesar de haver “estudos” que indicam que os elétricos fazem pior ao ambiente pelas fontes que utilizam para carregar e pela poluição das baterias quando chegam ao fim do ciclo. Assim, e até surgirem mais estudos, se queres garantir um “ciclo limpo”, deverás tentar dentro das tuas possibilidades carregar o teu elétrico através de fontes limpas - a maior parte dos fornecedores de eletricidade referem as fontes da eletricidade da tua casa.
Se a tua casa for uma moradia, então a opção mais amiga do ambiente será através da instalação de painéis solares - mais um custo a ter em conta. Não havendo emissões diretas pelo carro de CO2, outra questão importante é perceber o que o fabricante do teu veículo faz às baterias em fim de ciclo. No caso da Nissan, a maior parte é reutilizada para continuar a fornecer energia, mas em outros contextos.
Resumidamente, estou muito satisfeito com esta opção que fiz, porque é a mais adequada para o meu dia a dia e a que me dá mais prazer. Mas já sabes, se fizeres muitos quilómetros, vai-te compensar mais rapidamente (menos anos ou quilómetros) a escolha do veículo elétrico em vez da sua versão a combustão, mas prepara-te para alguns constrangimentos na hora de carregar fora de casa.