Algumas notas sobre o evento Apple do iPhone 12

 

A Apple apresentou no passado dia 13 de outubro mais um Evento Especial, desta vez para apresentar o novo iPhone 12.

Tal como aconteceu com os dois eventos anterior, também este - designado de “Hi, Speed” - foi realizado apenas em formato streaming e pré-gravado. Existem inúmeros sites, como este, que resumem tudo o que foi apresentado no evento.

Da minha parte, gostava de mencionar alguns pontos sobre o evento que me chamaram mais a atenção, e que são os seguintes.

HomePod mini

O HomePod mini foi apresentado como uma versão menor do tradicional HomePod, com um preço bastante mais apelativo - US$99. Sobretudo se, apesar do seu tamanho, a qualidade e volume de som mantiverem, de forma proporcional claro, os padrões que o HomePod nos habituou.

Porém, convém relembrar que este produto não é vendido em Portugal, o que o torna totalmente irrelevante para o nosso mercado. Quem o quiser comprar, terá de o fazer “lá fora” ou, em alternativa, esperar alguns meses que certamente haverá revendedores não oficiais Apple que o comercializarão no nosso país.

O 5G

Ao contrário do que esperava, a Apple introduziu o iPhone 12 como sendo o “iPhone do 5G. Claro que já se sabia que os novos iPhones da Maçã teriam esta tecnologia, mas eu achava que seria apresentada como uma simples feature do smartphone.

Com efeito, o que aconteceu no evento foi que o 5G foi apresentado como “A funcionalidade” do iPhone 12. E foi mencionada tantas vezes que houve quem fizesse um vídeo compilando todas as vezes que o “5G” foi dito!

Brincadeiras à parte, esta tecnologia terá em breve um papel muito importante nas nossas vidas, abrindo uma nova porta de possibilidades para os smartphones. Mas a realidade é que, atualmente, 5G é basicamente inexistente, sobretudo em Portugal.

Por isso, apesar da Apple ter espancado esta “tecla”, é algo que não se deverá ver como fundamental para um smartphone de 2020. Talvez daqui a 2 ou 3 anos possas efetivamente tirar partido do 5G do teu iPhone 12, mas para já, esquece.

Além disso, a banda mais rápida do 5G (mmWave) só estará disponível nos iPhones vendidos nos Estados Unidos, o que não contribui em nada a promoção do 5G no iPhone 12 em Portugal.

A bateria no iPhone 12

O novo design do iPhone 12 é relativamente consensual, no sentido é que é inspirado num dos designs mais bem aceites do iPhone até hoje. Porém, poderá ter tido um custo: a bateria.

Por ser um iPhone mais compacto, a bateria deverá ter sido reduzida, pelo menos é o que depreendo da (pequena) queda em autonomia que é anunciada no site da Apple em relação ao modelo Pro. Mas já no caso do iPhone 12 (não Pro), houve um ligeiro incremento na autonomia, desta vez na reprodução de vídeo em streaming.

Em suma, estas diferenças não deverão notar-se no uso diário do smartphone, mas convém ter em atenção para não termos falsas expectativas, pois a Apple deu um grande salto na autonomia do iPhone o ano passado. Este ano, tal não aconteceu.

As câmaras

Aqui foi a confusão total. E adianto já que estou muito desiludido com a Apple neste campo, mas já lá vamos.

Durante a apresentação do iPhone 12 Pro, a Apple disse que a sua câmara Teleobjetiva tinha um optical zoom range de 4x. Como nunca tinha utilizado este termo, quem, como eu, viu esta informação no slide, concluiu de imediato que tinha havido um salto muito interessante no zoom óptico do iPhone 12. Mas se olharmos com mais atenção, o que a Apple fala é no “alcance do zoom óptico”. Neste caso, o que a Apple está a considerar é a variação do zoom entre a Ultra angular (0,5x) e a Teleobjetiva (2x). E isso sim, é de 4x, mas o zoom óptico proporcionado pela Teleobjetiva é o mesmo que o dos iPhones anteriores. Uma péssima jogada de marketing e que causou muita confusão a quem assistia a keynote.

Dito isto, o que mais me transtornou nas câmaras foi o regresso da diferenciação deste elemento entre o modelo Pro e Pro Max - algo que acontecia quando tínhamos o modelo Plus. Agora, se quisermos ter a melhor câmara, temos de optar pela versão Max do iPhone 12 Pro, pois este tem um sensor maior na lente grande angular (1x) que o do iPhone 12 e 12 Pro, e que captura mais 87% de luz que o iPhone 11. O tamanho da lente é igual em todos os modelos de iPhone 12, o que também já é um incremento em relação ao modelo do ano passado, estando agora com uma abertura de ƒ/1.6. (vs ƒ/1.8 do iPhone 11).

Além disso, a grande angular do iPhone 12 Pro Max tem estabilização óptica de imagem no sensor, em vez de na lente. Por outras palavras, a estabilização da imagem é feita pela estabilização do sensor, que se desloca em vez da lente. Como consequência, é possível obter exposições de até 2 segundos quando o iPhone é manuseado.

Mas não é tudo: a Teleobjetiva também é diferente entre modelos Pro! Enquanto que no 12 Pro é uma lente 2x com abertura ƒ/2.0 (equivalente a uma lente de 52 mm), no 12 Pro Max a Teleobjetiva é de 2,5x e com abertura ƒ/2,2 (equivalente a uma lente de 65 mm). Na prática, acho que o mais relevante é que o zoom será ligeiramente maior no Max.

Péssima estratégia por parte da Apple.

O Mag Safe

A Apple resolveu ressuscitar o Mag Safe no iPhone 12. Esta foi uma funcionalidade muito apreciada pelos donos de MacBooks de há alguns anos, e que basicamente fazia com que a ponta do carregador ligasse ao Mac por magnetismo. Isto era extremamente útil quando se tropeçava no cabo, pois ele desconectava de imediato do MacBook, mantendo o portátil em cima da mesa em segurança.

Agora, esta tecnologia está presente na traseira do iPhone 12 e 12 Pro, em volta das bobinas do carregamento sem fios, e isso tem como consequência imediata um melhoramento na velocidade do carregamento wireless, passando de 7,5W para 15W. No entanto, para podermos usufruir dessa melhoria, teremos de comprar um carregador Mag Safe, claro. Apple a ser Apple. Podemos continuar a carregar o iPhone 12 sem fios com os carregadores Qi, mas a velocidade continua a ser 7,5W.

Uma coisa interessante é que com este carregamento magnético por Mag Safe, é mais fácil posicionar o iPhone no carregador, permitindo ainda que possamos usar o iPhone mais confortavelmente enquanto este carrega via wireless (com alguns dos carregadores, como o da Apple).

Adicionalmente, o Mag Safe vem permitir um novo mercado de acessórios, tais como esta carteira da Apple e este suporte para carro, da Belkin. Deste modo, estão criadas condições que permitirão à Apple remover a entrada Lightning do iPhone, quem sabe já no próximo ano.

iPhones sem EarPods e Adaptador na caixa

Tal como aconteceu com o Apple Watch, a Apple resolveu retirar da caixa o adaptador de corrente de todos os modelos de iPhone comercializados pela empresa - desde o iPhone SE até ao iPhone 12 Pro - assim como os EarPods. O argumento para esta decisão foi, mais uma vez, a questão ambiental.

No meu caso particular, não faz absolutamente diferença nenhuma, pois tenho AirPods e carrego o iPhone por wireless todos os dias. Mas o que faz cair por Terra a motivação ambiental da Apple é que os iPhones continuam a custar o mesmo preço, apesar de virem com menos acessórios.

Eu sei que houve uma descida nos preços destes acessórios após o Evento, mas o problema é que se de facto a Apple se preocupa tanto com ambiente, deveria ter repassado algum benefício financeiro para o consumidor: ajustando os preços dos iPhones ou fazendo um mega desconto nestes acessórios para quem compra um novo iPhone.

Mas não. O consumidor fica com a clara perceção de que a Maçã tem um ganho imediato na margem do produto. Isto porque durante a apresentação, a Apple fez saber que a ausência destes acessórios permite reduzir o volume da caixa e assim enviar 70% mais unidades, poupando no transporte.
Não me interpretem mal, eu acredito que a Apple tem genuinamente uma preocupação ambiental, mas esta foi a pior forma de o demonstrar.

A ausência de algumas novidades

O Evento Especial mostrou-nos grande parte das novidades que já eram esperadas. Mas houve aquelas que muitos de nós esperavam que vissem a luz do dia e que não aconteceram. A mais evidente era a redução do notch, que continua com o mesmo tamanha desde que foi apresentado no iPhone X em 2017. Isto, para mim, é simplesmente inaceitável. Não há justificação possível para a ausência de otimização na tecnologia presente na câmara TrueDepth que permita reduzir o seu tamanho.

Por esta altura já praticamente toda a concorrência eliminou qualquer vestígio da câmara frontal nos seus smartphones e apesar da tecnologia presente no módulo da câmara frontal do iPhone ser muito superior à da concorrência, não consigo entender como é que esta aberração estética não evolui. No dia-a-dia não faz muita diferença enquanto usamos o smartphone, é certo, mas olhar para outros equipamentos com verdadeiros ecrãs ponta-a-ponta e olharmos depois para o iPhone, é simplesmente deprimente. Se a Apple não reduzir o tamanho do notch no próximo ano, considero seriamente a hipótese não atualizar o meu iPhone.

O ano de 2020 fica marcado como a adoção em massa pelas fabricantes de ecrãs com taxas de atualização mais elevadas. Tipicamente, esta era de 60Hz nos smartphones, mas agora encontramos várias soluções no mercado com 90, 120 e até 144 Hz. A própria Apple adotou esta tecnologia nos iPad Pro com o ProMotion de 120 Hz e, por isso, esperava-se que o próximo passo fosse a transição desta funcionalidade para os iPhones, o que voltou a não acontecer este ano.

Arrisco-me a dizer que a maior parte das pessoas não consegue distinguir um ecrã de 60 Hz de um de 120 Hz. No meu caso, seria algo que faria diferença porque estou habituado a transitar entre os 60 Hz do iPhone e MacBook e os 144 Hz do ecrã do meu PC Gaming e que torna a experiência de jogos muito mais fluída. Aliás, eu noto de imediato esta diferença no próprio Windows apenas com o movimento do cursor do rato. Deste modo, tenho muita pena que esta tecnologia continue de fora dos iPhones.

Por fim, o Touch ID. Em temos de pandemia, o Face ID tornou-se praticamente inútil quando estamos fora de casa e temos de usar máscara. Não conseguimos desbloquear o iPhone nem fazer pagamentos sem ter de introduzir o código de 4 ou 6 dígitos. Assim, tinha esperança que, tal como aconteceu no iPad Air, a Apple trouxesse de volta do Touch ID ao iPhone, mas isso não aconteceu. E a par de um notch idêntico, esta foi a minha outra grande desilusão no iPhone 12.

Para terminar este artigo, queria deixar uma menção honrosa ao iPhone 12 mini. Este equipamento faz todo o sentido na linha de iPhone, sobretudo pelo sucesso já revelado do iPhones SE devido ao seu tamanho compacto.

O preço não é certamente tão apelativo quanto o do SE, mas se não fosse a questão das câmaras, muito provavelmente optaria pelo modelo mini. Sempre fui fã de iPhones pequenos - tais como as minhas mãos. Mas para já, vou manter-me no Pro “base”, desta vez na nova cor Azul Pacífico, com entrega prevista para novembro.

Aguenta coração!

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